Todos os anos é realizada a conferência mundial de netnografia chamada Netnocon. São três dias imersos em conhecimento, com grandes nomes da pesquisa qualitativa, incluindo o próprio criador do método.
Este ano, a conferência foi realizada em Milão, na Università Cattolica del Sacro Cuore, a mais importante da Itália. E tive o privilégio de estar lá, aprendendo mais com tantos especialistas.
Peço licença aos meus queridos leitores para compartilhar minhas experiências, um tanto dramáticas, mas de tremendo aprendizado.
Nunca tinha participado de uma conferência internacional de pesquisa e nem imaginava o alto nível de comprometimento exigido para estar lá. Apenas fiz minha pesquisa, cliquei para submeter meu trabalho e tomei aulas extras de inglês.
Meu paper foi aprovado e, à medida que as correções eram feitas, eu ficava mais entusiasmada com a oportunidade. Afinal, estudo netnografia e escrevo sobre o tema há mais de oito anos, e espero que mais pessoas se interessem pelo método.
Na mala, além das expectativas, levei minha mãe, que, além de falar italiano, tornou nossa jornada o mais agradável possível.
No último dia da Netnocon, descobri que outros conferencistas também levaram suas mães, não por medo de novas experiências, mas porque compartilhar viagens com quem amamos é muito gratificante. Sim, esta foi definitivamente uma conferência com as “mammas”.
Nossa conferência foi moldada pela beleza da arquitetura da universidade, boa comida e o encontro com pessoas que se posicionavam ao seu lado, mesmo sendo infinitamente superiores em conhecimento e experiência.
À medida que assistia às apresentações dos outros participantes, sentia a pressão. Sem slides para apresentar, decidi aproveitar a oportunidade única para ouvir os outros e me dedicar a aprender mais do que a apresentar.
Fui posicionada na sala magna, com o próprio Robert Kozinets como mediador, e fui a primeira de três a se apresentar. Sentiu a pressão?
Eu suava por baixo do blazer colorido e, antes mesmo de começar, disse ao Robert que estava preocupada com minha apresentação.
Com aquele jeito descolado da Califórnia, ele disse: “Acha que é só você?” #netnocon24
A essa altura já era o fim, não havia nada além de apresentar a pesquisa e se preparar para morrer, risos!
Minha apresentação foi desastrosa, mas meu tema seguiu forte e gerou interesse. Relaxei!!!
Dali em diante, mantive a calma, mesmo quando o inglês falhava ou quando pessoas saíam da sala incomodadas com uma apresentação que parecia mais de uma influencer do que de uma pesquisadora.
Para uma pessoa que sempre trabalhou com comunicação, mas nunca com pesquisa, ter um mestrado, doutorado e pós-doutorado fez toda a diferença quando o assunto foi networking. Só para constar, eu não possuo nenhum deles, apenas especializações e experiências ao longo da carreira.
Após a apresentação, permaneci no palco assistindo aos próximos. Não havia nada que pudesse fazer, então mantive a postura e absorvi o máximo de conhecimento possível.
Foi justamente ao observar as pessoas que percebi que não estava sozinha. Havia um alto nível de nervosismo entre os outros, pela aprovação de seus trabalhos, pelas horas dedicadas e, muitas vezes, pela angústia de falar em público.
A mágica aconteceu ao conversar com as pessoas presentes. Por mais que todos estivessem se perguntando como a inteligência artificial vai afetar as pesquisas, a beleza da conferência se ampliava na habilidade de ver as pessoas construindo pontes e identificando oportunidades.
Sem citar nomes em meio a tanta gente brilhante, posso dizer que a criatividade chinesa, as cores da Austrália e o orgulho italiano foram fundamentais para a minha transformação pessoal.
Na conferência, não houve espaço para desculpas, mas sim para delicadezas, assuntos em comum e um networking que humildemente tive o privilégio de acessar.
Se desanimei com tantas dificuldades? Nem um pouco. Isso serviu de combustível para as próximas conferencias. E, sim, já iniciei mais aulas de inglês para me comunicar melhor. #netnocon
Dedico estas humildes palavras a todos que estiveram por lá e expresso minha maior gratidão por tanto conhecimento adquirido e tantas pessoas brilhantes. Obrigada!
Por Maria Augusta Ribeiro especialista em Netnografia e Comportamento Digital
Porque as pessoas tem medo de se desconectar