A internet transformou profundamente a maneira como vivemos, trabalhamos e consumimos. No meu caso, uso a netnografia que é o estudo do consumidor na internet como profissão. No entanto, essa revolução digital trouxe novos desafios para o comportamento humano e um deles é o surgimento do consumidor adoecido, um indivíduo cujo bem-estar mental e físico foi comprometido pelo uso abusivo e descontrolado de dispositivos conectados. #Netnografia
Mas afinal de contas o que é um Consumidor Adoecido?
O termo “consumidor adoecido” se refere à pessoa que, devido à exposição prolongada e intensa às tecnologias de informação e comunicação (TICs), desenvolve sintomas de estresse, ansiedade, depressão, entre outros problemas.
Esse perfil se manifesta principalmente por meio da Infobesidade – uma sobrecarga de informações – e do uso abusivo de redes sociais e compras online. Além disso, a falta de equilíbrio entre vida online e offline agrava o quadro, levando ao isolamento social e à perda de produtividade.
Os consumidores adoecidos costumam apresentar dificuldade de concentração, distúrbios de sono, e alterações no comportamento emocional, como a sensação constante de inadequação, gerada pela comparação com outros nas plataformas digitais. A pressão por atender às demandas da hiper conectividade também pode desencadear burnout digital, um esgotamento causado pela incapacidade de desconectar.
Impactos para a Sociedade e Relações de Consumo
As consequências do adoecimento digital vão além do indivíduo, afetando toda a sociedade. Já parou para pensar que ninguém quer um funcionário doente? Sim isso além de gerar transtornos, vai sobrecarregar sistemas de saúde e vai tornar a vida mais cara, porque alguém vai pagar essa conta no final. O aumento no número de pessoas adoecidas representa uma sobrecarga nos sistemas de saúde mental, demandando recursos públicos e privados para lidar com um problema crescente.
Além disso, o comportamento de consumo também se transforma. Consumidores adoecidos tendem a comprar de forma impulsiva e emocional, sem ponderar os impactos financeiros de suas decisões. Isso pode gerar endividamento e comprometer o planejamento econômico pessoal e familiar, afetando também o mercado e a economia como um todo.
Por outro lado, as empresas precisam lidar com um novo dilema: atender a um público cada vez mais conectado, mas também consciente dos efeitos nocivos do consumo desenfreado. Assim, surgem movimentos em prol do consumo consciente, forçando as marcas a repensar suas estratégias para evitar a exploração emocional dos consumidores. Nesse cenário, políticas de bem-estar digital se tornam essenciais para evitar o agravamento do problema.
A Netnografia como Ferramenta para Compreender o Consumidor
O método de pesquisa que adapta técnicas da etnografia para estudar comportamentos em ambientes digitais, é fundamental para investigar o perfil do consumidor adoecido. A partir dessa metodologia, é possível observar padrões de comportamento em fóruns, redes sociais e comunidades online, entendendo como os indivíduos interagem, consomem e compartilham suas experiências.
Com o aumento da adoção de inteligência artificial e novas tecnologias, a netnografia se torna ainda mais relevante. A partir da análise de dados qualitativos, pesquisadores e empresas conseguem identificar gatilhos emocionais e comportamentais, promovendo ações mais empáticas e direcionadas para o bem-estar do consumidor.
É fundamental que sociedade, empresas e governos unam esforços para combater o adoecimento digital. As marcas, por exemplo, podem adotar estratégias mais transparentes e menos invasivas de marketing, oferecendo produtos que promovam bem-estar e equilíbrio. Ao mesmo tempo, é necessário educar os consumidores sobre os riscos do uso excessivo da tecnologia, fomentando autoconhecimento e a conscientização sobre o tempo de tela e regras de uso.
Por sua vez, governos e instituições devem regulamentar o uso das tecnologias e incentivar programas preparando as próximas gerações para uma relação mais saudável com o mundo online. Além disso, políticas de saúde pública precisam ser direcionadas para atender a população já adoecida, oferecendo tratamento e suporte psicológico adequado.
Em um mundo cada vez mais conectado, entender o fenômeno do consumidor adoecido é essencial para evitar que o uso das tecnologias continue a causar danos irreparáveis ao indivíduo e à sociedade, afinal ninguém quer adoecer pela tecnologia e muito empresas querem arcar com o ônus de funcionários doentes. Para isso a netnografia oferece um caminho promissor para investigar esses comportamentos e encontrar soluções que promovam o bem-estar digital.
Portanto, é imperativo que a sociedade como um todo desperte para os perigos do adoecimento digital e adote medidas preventivas. O equilíbrio entre vida online e offline não é apenas uma escolha individual, mas uma necessidade coletiva para garantir a saúde das futuras gerações e a sustentabilidade das relações de consumo sempre.
Por Maria Augusta Ribeiro especialista em Netnografia e comportamento digital
https://belicosa.com.br/economia-circular-e-netnografia/
https://www.rdnews.com.br/artigos/conteudos/198755