Empreender não é uma tarefa fácil. Mas a busca por novos formatos de carreiras tem levado milhões de pessoas a empreender com a ilusão de que para isso basta pedir demissão e ter paixão pelo seu novo negócio que vai ter sucesso.

A enxurrada de novos empreendedores está trazendo para o mercado a urgência de educação empreendedora, para capacitar as pessoas para os desafios a serem encontrados quando o assunto é empreendedorismo.

Até aqui nada de novo. O negócio é que, com o volume de novos autores, palestrantes e pesudos inovadores apenas na ficção. O movimento esta induzindo de forma errada o que, de fato, é empreender na vida real. E com isso formando uma geração de desempregados no futuro.

Recentemente conversei com uma jovem que disse: “Belicosa, tive uma ideia brilhante, pedi demissão para trabalhar na internet como você”. Antes que ela terminasse a frase a minha cara de espanto já era realidade.

Empreendedorismo

Ela me contou que trabalhava num escritório de arquitetura há 2 anos e que adorava. Era líder de equipe, tinha um CEO que admirava, tinha uma série de benefícios e ganhava bem. Então, qual era o problema? Nenhum, vou empreender, lá já não há mais nada que possa aprender.

A minha cara não tinha mais aonde pôr caretas tentando compreender os porquês daquela atitude. Mesmo observando o comportamento dos mais jovens em ambiente digitalizado, sempre há momentos em que preciso rever conceitos. E aquele era um deles.

Foi quando perguntei por que ela queria empreender. Ah! Porque é bem mais fácil, vou trabalhar quando quiser, de forma remota e quando não souber de algo pego um vídeo no Youtube sobre motivação e volto com força total.

A ideia de que todas as experiências de carreira foram supridas num trabalho convencional faz das pessoas presunçosas, em vez de empreendedores. Concordo, se você não está feliz no seu trabalho, procure algo que lhe estimule. Mas o empreendedorismo está sendo vendido por nós, como algo que possa ser feito sem a resiliência suficiente para lidar com as adversidades do mercado.

Cada vez que ela abria a boca, tudo o que saia me arrepiava. Então, todo o esforço, mesmo que com erros de jovens empreendedores, estava direcionando um futuro incerto e frustrado de alguém que era brilhante em seu trabalho atual, mas foi iludido por um mercado que acha que vender cursos e mentorias pelo Sebrae vai resolver seu fluxo de caixa quando as contas não fecharem no fim do mês.

Tentando barganhar com ela, o assunto ficava cada vez mais tenso, pois percebia que estava decida e que não havia qualquer noção de risco na ideia de empreender. Foi quando mais 3 pessoas se juntaram à conversa e que experimentavam a mesma percepção errada de empreendedorismo.

Passamos tanto a ideia de que todo mundo pode empreender e que estamos no filme rede social onde Mark zuckerberg fez o Facebook em 2 horas e ficou bilionário, que todo mundo compra.

Que qualquer um pode ir no Shark Tank que os tubarões vão virar seus sócios, que vão ficar famosos e que nada vai ser cobrado. Nem o trabalho duro, nem a grana de volta, se tudo der errado.

Outra amostra de que estamos na contramão da educação empreendedora é que em muitos lugares há leis que proíbem o uso de internet nas escolas públicas, mas incentivam programas de governo de parques tecnológicos, ou seja, como vamos capacitar essa turma para o uso adequado da tão falada inovação disruptiva se proibimos eles de acessar a internet?

No meio da minha fala tentava mostrar para os que me ouviam o quanto desafiador era, e que, depois de empreender, o negócio precisaria de uma pessoa com perfil de liderança para sustentar sua equipe. Foi aí que as caretas se inverteram. Como assim? Vamos precisar contratar pessoas?

Sim, cara pálida, nenhum grande negócio nasceu de uma ideia brilhante e aconteceu sozinho. Mas eu já tenho o plano perfeito! Basta ir atrás de financiadores com uns pitchs e ppts super bacanas que conseguimos a grana… mas sabemos que não é assim.

A ideia de que empreender não precisa de um modelo de negócio não é falta de informação, e sim de percepção, diante de tantos empreendedores de palco vendendo apenas sucesso, sem agregar o quão difícil pode ser a parte operacional.

O Brasil é campeão em desestimular quem deseja empreender. E estamos criando uma legião de pessoas que não sabe que o país esmaga a maioria dos negócios em processos trabalhistas, impostos e taxa de juros.

Gostaria de ver mais gente preocupada em fazer livros, curso e palestras que ensinassem, na prática, como é difícil ter um CNPJ no Brasil. E que preparassem essa moçada água com açúcar, que se isso não for barreira para empreender, prossiga.

A conversa bizarra com a menina quase brilhante me fez perceber que, por mais que as pessoas não digam, está todo mundo mais preocupado em ser ranking no Google e capa da Exame do que apostar numa ideia como negócio que, como toda atitude, tem seus riscos e merece atenção.

Por: Maria Augusta Ribeiro. Profissional da informação, especialista em Netnografia e Comportamento Digital – Belicosa.com.br

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